Em um atendimento na semana passada surgiram boas conversas a partir de uma fabula apresentada por uma querida aluna. A recontarei a partir de minhas palavras, compartilhando também parte das reflexões que afloraram.
”Certa vez em uma grande floresta começou um terrível incêndio que derrubava até mesmo as maiores árvores, queimava as deliciosas frutas e transformava em cinzas as mais belas flores. O fogo era como um dragão de sete cabeças que se espalhava com investidas agressivas e tortuosas pela mata, destruindo toda a vida que se colocava como obstáculo diante dele. Em frente desta tão assustadora presença descontrolada a maioria dos animais fugiam sem nem pensar. Alguns mais distantes ficaram congelados pelo medo e não reagiam de forma alguma.
Mas víamos de longe um pequeno passarinho azulado vindo de um ponto distante em direção as chamas excitadas, ele ia e voltava, ia e voltava! O que estaria fazendo? Por que corria esse risco assim? Chegando pertinho podíamos perceber que voava até um balde perdido nos campos produtivos e retornava com o bico cheio d’água até o incêndio onde então a derrubava.
Outro passarinho pousou no balde perplexo e o perguntou: – Ó amigo, que tolice estás fazendo? Então crês que com esses pinguinhos de água que levas conseguirás apagar o incêndio que lavra em todo esse mataréu? – E a resposta veio em tom firme porém amoroso: – Bem sei que minha ajuda é insignificante e fraca diante das colunas de fogo e fumaça que aniquilam a floresta. Não posso, porém, fazer mais do que faço, logo estou cumprindo com o meu dever. Se todos houvéssemos atacado na medida de nossas forças e possibilidades, as chamas que agora destroem a nossa mata já estariam extintas. E mesmo que nada aconteça, meu contentamento está em agir na direção em que acredito!”
Diante de tantos desequilíbrios, injustiças, catástrofes é comum que desanimemos. São tantas notícias ruins e duras realidades. E muitas vezes a situação é de fato algo que está fora do nosso controle e capacidade. O passarinho quando cumpre seu dever, mesmo que pequenino, nutre dentro de si um sentimento de comunidade importante, que lhe traz o reconhecimento de que também viemos para servir, cada um dentro de seu papel único. Este amor pela humanidade e pela natureza além de nos levar a contribuir com um desenvolvimento positivo da nossa sociedade e mundo, também nos auxilia como combustível para o nosso próprio crescimento.
Outra sabedoria contida nesta releitura que apresentei com base na fabula do ”Passarinho e o Incêndio” está na entrega necessária à ação. Se o pequenino se preocupasse mais com o resultado de sua ação ao invés da qualidade do que estava fazendo – ou seja, da sabedoria envolvida em sua escolha – provavelmente não faria nada, ou se desesperaria de um jeito que o levaria a se queimar ou então xingaria os seus amigos animais por não estarem fazendo o mesmo que ele. Mas não, ele sentia ser o correto agir dessa forma, com fé e coragem o fez e com carinho se expressou ao seu querido semelhante. Não podia garantir se teria qualquer efeito os seus esforços e a princípio de fato eram ínfimos. Mas no mínimo ao agir inspirado por sabedoria e amor na tentativa de apagar o fogo ele acendeu uma chama em seu próprio coração, que poderá irromper calorosamente em outros corações, alimentando progressiva e gradualmente nossos caminhos num sentido mais consciente.
Somos um. Uma unidade. Humanidade.