Natar é um jovem adulto, praticante dos conhecimentos secretos que levam à liberação da alma e, ao longo dessa história, conheceremos algumas características deste personagem, importantes para a compreensão da mensagem aqui contida. Ele estava em um salão da amizade, no mundo invisível, e, enquanto explorava o domínio na habilidade de voo com seu corpo sutil, “despertou”. Em todo o grande salão, os amigos que estavam presentes permaneciam adormecidos. Isso era algo fácil de perceber através do brilho e do movimento de seus olhos, que eram opacos e perdidos, além do envolvimento em temas completamente fantasiosos.
Pois bem, logo decidiu sair em voo para explorar mais os arredores da região onde estava. Subiu em direção a uma montanha que ficava a leste, logo depois de um gigantesco rio cruzado por uma ponte encantada, arqueada, feita de pedras cúbicas de cor cinza-claro, cheias de pequenos cristais brilhantes. Ele passou voando baixo, próximo à estrutura da ponte, e escutou um grupo de pessoas “acordadas” conversando sobre seus planos para a destruição do mundo visível. Ficou evidente que era um grupo muito poderoso e que muitos perderiam suas vidas no mundo da carne se esses cumprissem seus planos num futuro próximo. Natar sentiu-se impelido a proteger seus queridos adormecidos e decidiu lutar contra a trupe ali mesmo, na tentativa de frustrar seus planos de destruição em massa.

Lançou-se à superfície da ponte, e uma batalha feroz teve início: Natar contra a trupe, formada por cerca de oito pessoas. Cada um dos indivíduos da trupe — homens e mulheres — demonstrava poderes únicos e majestosos, frutos de suas compreensões e imaginações particulares. Natar também tinha sua força, e, numa luta árdua, com grande resistência, derrotou dois ou três. Mas a peleja se alongava; outros dois adversários chegaram para reforçar a trupe. Até que, cansado, reconheceu a superioridade numérica e a força dos oponentes e, então, ajoelhou-se em rendição.
Para sua surpresa, os membros da trupe não o finalizaram, mas estenderam a mão, dizendo: “Venha conosco; lhe explicaremos melhor toda a questão para que entenda.” E assim o escoltaram, caminhando em direção à montanha, enquanto falavam.

Contaram que todas as estruturas e mecanismos criados e desenvolvidos no mundo conhecido — este de matéria grosseira — tinham como base a ignorância. E que, naquele momento, a única solução seria a destruição de tudo, até que não sobrasse mais nada. Era claro que todos que não estivessem acordados em seus corpos sutis pereceriam. “E depois que tudo for destruído, o que será feito?” — perguntou Natar. E responderam que o mundo visível seria repovoado por eles, as guerreiras e guerreiros despertos. A trupe, reconhecendo o potencial de Natar, demonstrou interesse em convocá-lo para seu grupo, que, com ele, formaria treze. Assim, seguiram para uma reunião com seu guia em algum lugar na montanha.
Natar questionou o plano da trupe, pois não entendia a necessidade de acelerar uma destruição que já aconteceria naturalmente. Seu ideal era dedicar o máximo de esforços para ajudar a humanidade, de modo que o maior número de almas pudesse acordar e que a decadência viesse apenas no seu ritmo natural, sem interferências. Com essa argumentação, convenceu inclusive seis dos dez que caminhavam com ele.
Ao chegarem ao local de encontro, na base da montanha, o sol estava se pondo, e uma noite clara chegava. O guia posicionou-se à frente, um pouco acima dos dez que chegavam com Natar, além de outros dois que já estavam ali aguardando. Ainda em silêncio, recebia os discípulos — se é que assim se chamavam. Natar, por sua vez, pensava que precisava descobrir o máximo possível sobre a trupe e seus planos, afinal, era algo crucial. Quanto mais soubesse, maiores seriam suas chances de ajudar o povo do mundo visível a se salvar. Assim, permaneceu, mesmo receoso, para ver como as coisas se desenrolariam.

Um dos doze, com ar de satisfação em fazer isso, contou ao guia que Natar tentava dissuadi-los de seus planos e que seis deles estavam inclinados a isso. Pela expressão e olhar do guia, parecia que ele já sabia; apenas olhou para baixo, e, pouco a pouco, uma vibração inaudível começou a soar. Era perceptível que aquele som chamava os seguidores e, ao mesmo tempo, empurrava Natar para trás com uma força imutável, enquanto a trupe seguia em frente.
Logo, Natar foi alcançado por uma centena de seguidores da trupe, até ficar completamente rodeado por eles, que caminhavam em direção à montanha, levando-o junto. Ele tentou escapar voando das fileiras, mas não conseguiu. Alguns dos seguidores tinham corpos que brilhavam em azul-claro e explicaram que, embora muitos ali ainda tivessem corpos físicos, ao aderirem à causa, deviam criar corpos sutis azulados para permanecerem vivos após o cataclismo final. Confuso, continuou a caminhar junto às fileiras, enquanto experimentava lapsos de momentos em que quase retornava, sem controle, ao mundo visível.

De repente, um amigo seu apareceu — este, também como um professor confiável. Veio para dar um alerta, mas Natar não conseguiu entender o que ele dizia. Apenas percebeu que o corpo do amigo emanava a luz azulada. Não soube diferenciar a intensidade ou a quantidade dessa luz entre os que já a possuíam, para saber quais tinham concluído a construção do corpo sutil imortal, quais ainda estavam iniciando o processo ou mesmo como isso funcionava de fato. Reconheceu, porém, o ar de urgência de seu amigo, que parecia alertá-lo sobre algo importante. Mas, logo, o amigo foi suprimido e desapareceu em um ponto central dentro de si. O que ele viera avisar?
Seguindo em frente, algumas dúvidas pairavam sobre sua mente, até que Natar retornou ao seu corpo de carne.
De volta ao mundo visível, ele sentou-se em seu leito para refletir e meditar. Reconheceu algo sério, mas muito sensível dentro de si. Sentiu-se iludido por seu próprio desejo de proteger a vida de seus queridos, mesmo que fosse por meio de esforços direcionados a ajudá-los em seus caminhos de despertar e liberação. Entendeu que o que foi construído pelo engano só gera dano e fortalece a inconsciência humana. E que, sim, o único caminho era destruir toda essa identidade visível e enganada, construída sobre nossa verdadeira natureza espiritual.
Agora, compreendia que os guerreiros, a trupe e o guia estavam certos. Provavelmente, essa era de fato a melhor forma de ajudar a humanidade: dedicar esforços sérios e conscientes para destruir todas as falsas, porém sólidas, estruturas internas. No caminho, dar as mãos àqueles que quisessem e precisassem, assim como a trupe fez com ele. Não havia mais tempo para desviar do foco, nem mesmo por objetivos que pareciam honrados. Se essa luta necessária não fosse travada, o mal tomaria os mundos.
Era triste pensar que muitos pereceriam no processo, mas se a luta não fosse enfrentada e o mal não fosse destruído, as possibilidades de salvação e renovação se perderiam por muito tempo, e esse tempo seria preenchido por sofrimento. Assim, Natar iluminou um aspecto antes obscurecido dentro de si. Passou a olhar com mais clareza para o que devia ser feito. Não abriria mão do amor e da compaixão, valores fundamentais para ele, mas deu mais um passo na compreensão do lugar de cada coisa.
Ele sabia que precisava destruir para construir seu corpo sutil azul e se prepararia para isso. Sentiu-se honrado pela convocação para ser o décimo terceiro membro da trupe, mas entendeu que esse papel não deveria ser cumprido por convite, e sim conquistado pelo mérito do cumprimento de sua missão. Acreditava que fracassara na convocação e que, por isso, fora devolvido ao seu corpo de carne. Mas, em vez de tristeza, sentiu contentamento por ver com mais clareza seus erros e o caminho a seguir. Levantou-se mais uma vez, com força e sabedoria, atento ao foco principal de sua missão: destruir e criar. Sabia que essa era a melhor forma de amar.
