
Na semana passada me propus a tirar fotos de coisas aleatórias e simples em nossa casa para depois parar e refletir sobre as histórias que têm os objetos. O yoga nos ensina a dar ênfase ao mundo interno, pois é onde poderemos reconhecer como nos relacionamos com as coisas a nossa volta, e isso será importante quando quisermos caminhar em uma direção que venha a ser mais adequada ao nosso processo.
Ao olhar essa foto, de um vídeo game, uma tv coberta por uma canga em cima de um móvel antigo, janelas ainda sem cortinas, uma outra canga em uma destas, o sol entrando pela janela frontal e os detalhes do telhado aparecendo através dela, para outros pode ser apenas uma foto do pedaço de uma casa qualquer, em uns pode emergir algum conteúdo interno específico e para mim são longos capítulos de contos diversos. Certas passagens me vem a mente ao buscar a forma que me relaciono com cada um desses objetos que aparecem aí, mas para desenvolver em algum sentido escolhi a tv coberta por esta canga de Ganesha.
Por que ela está coberta assim? Parando para pensar não é algo que costumo ver em qualquer lugar, e de fato esse hábito representa uma reflexão muito presente na minha vida e de minha companheira. ”Será que não deixamos de lado essa ideia de assistir televisão? E nos concentramos mais em realizar outras atividades que sejam mais benéficas… Ela assim no meio da sala parece que tira o calor de um ambiente que prevê a relação entre as pessoas, não parece amor?” Mas por outro lado reconhecíamos que gostávamos de assistir alguns programas específicos (eu mais do que ela), que é relaxante e que também nos traziam bons estímulos para o nosso caminho quando feito com consciência. Dessas trocas todas e reflexões surgiu esse hábito de ”esconder” a tv, tipo, ela não é o mais importante naquele ambiente, mas está ali caso precise cumprir um papel…
E o lazer têm seu papel, a arte, a música, os momentos de criatividade espontânea, nos conectam com um tipo de maravilhamento natural e relaxado sobre a vida se estivermos dispostos a mergulhar sem perder a direção que nos é essencial. Nutrir este assombro pela vida como os objetos que nos causam interesse fazem, pode nos ajudar a proteger uma qualidade emocional mais elevada. Mas veja, a tevê está coberta, porque ela vai ser boa se cumprir um papel em serviço de algo maior, se relaxar um pouco me auxiliará em meu caminho, ótimo, se meu vínculo com qualquer outra fonte de divertimento puder me aproximar cada vez mais de algo mais sensível, me preencher com uma percepção mais luminosa da realidade, que bom! Agora, quando um passatempo só existe a partir de uma fonte interna de ignorância (carências etc), e se isso se torna excessivo, a probabilidade de nos causar sofrimento é grande, mas calma lá, só vai ser possível reconhecer estas questões todas e poder construir uma relação mais adequada e inteligente a partir do autoconhecimento. Portanto vale o olhar para si e a discriminação sobre as nossas relações.
Para mim essa foto é uma mensagem da humildade em reconhecer e acolher quem somos e da vontade de nos dirigir para onde queremos ir e também uma lembrança de que vai ser melhor fazer isso com discernimento, leveza e alegria.