Acredito que desde criancinha vejo por aí e procurei eu mesmo experimentar de variadas formas, isso que é parar e buscar assimilar uma reflexão de forma mais profunda e sensível, ou então me conectar com algo mais sutil através de um esforço consciente, o que seria impossível com a atenção comum do cotidiano. Sempre via pessoas leves e sorridentes falando do grande benefício da tal meditação. E quando comecei a vivenciar por mim mesmo descobri também os prazeres requintados promovidos por uma mente mais calma e concentrada.

Eis que ainda na flama do começo da juventude havia me viciado as sensações tão elevadas que a meditação me proporcionava e portanto o mundo já não me interessava tanto assim… Não perdia por nada minhas preciosas práticas e ai de todos se as ameaçassem!

Com o tempo e uma boa quantidade de auto observação e estudo a partir de fontes confiáveis fui me dando conta que continuava em sofrimento; minha relação com o mundo não estava melhorando. Dou graças a possibilidade de amadurecer. Estava apegado a um prazer um pouco mais refinado que era conquistado por uma prática sem um proposito claro. Na intenção de melhorar meu vínculo com a própria vida, por um tempo, deixei isso de lado e procurei reconhecer de fato o que era fundamental.

Eis que percebi minha ignorância sobre mim mesmo e sobre a vida em geral, esbarrava com minhas dificuldades em cada esquina na aventura vivida. Então com a continuidade dos meus estudos e o reconhecimento da demanda, entendi. A meditação tem como essência nos apoiar em nosso caminho de autoconhecimento, que se desenvolve no cotidiano. O principal é favorecer uma investigação interna cada vez mais profunda sobre nós mesmos. Descascando camada a camada o entendimento sobre as nossas estruturas íntimas. Compreendendo e removendo os obstáculos que impedem a percepção clara, reconhecendo e preenchendo-nos de nossa verdadeira natureza superior.

A meditação sem preparo e sem finalidade pode tornar-se leviana e até mesmo danosa. Construída com sabedoria e conduzida com inteligência, respeitando a individualidade, é maravilhosa para manter os faróis limpos e bem acesos, nos levando à uma maior visão e discernimento sobre a verdade.

O objeto de meditação deve ser escolhido com cautela e isso é feito com o auxilio do professor na tradição do yoga, na maioria das vezes. Quando praticamos, buscamos assimilar uma compreensão em nossa própria consciência, isto é algo que leva tempo, nenhum relacionamento consistente começa íntimo e se aprofunda de imediato. Na meditação é assim também, primeiro preparamos melhor nossa mente através da maturidade desenvolvida pelos estudos e também pelos āsanas e prānāyāmas. Então construímos o vínculo com a prática; reconhecendo seu propósito, definindo a técnica etc. Depois disso vamos circulando o objeto escolhido sustentando o foco e a sensibilidade por longo tempo, gradualmente chegando a um só pensamento. Ao fim nos desconectamos do objeto e refletimos sobre o benefício da prática para nós e também para todos ao nosso redor.

É comum que cada meditador possa precisar de um objeto diferente, que pode mudar ao longo da vida diversas vezes. Mesmo um mantra tradicional terá um processo pessoal de construção de conexão com a prática. É preciso acolhimento e verdadeiro interesse individual se realmente queremos sustentar algo que nos beneficie de verdade.

Para a formalização da meditação no Yoga são necessários três aspectos. Um deles é uma imagem de tal objeto, que deverá ser pintada pelo olho secreto na tela de nossa imaginação. Tradicionalmente ainda é muito usual o elemento da palavra, uma forma de comunicar aquilo que está sendo buscado. Uma frase, uma oração, um canto ou um verso, que define o objeto e integra o mundo externo ao interno. A recitação verbal ou mental coordenada com a exalação ainda estimula sensibilidade, pela redução da agitação que tal etapa respiratória promove quando alongada. E a recitação que frequentemente tem um método preciso, cooperará para uma concentração profunda.

O terceiro ponto é o significado; precisamos de um conhecimento prévio que estruture e direcione a nossa prática. Com paciência e acolhimento de nossos obstáculos internos vamos gradualmente removendo a memória que avança amiúde sobre o objeto, corrompendo o conhecimento e impedindo a compreensão correta. Definimos um caminho para a construção de clareza em determinado sentido, que atuará reduzindo os enganos pouco-a-pouco para que o conhecimento possa revelar as qualidades verdadeiras do objeto através da nossa prática apurada. Assim a meditação compõe o coração da prática formal, dando elevado apoio ao nosso caminho de auto amadurecimento que acontece de momento a momento em todos os dias de nossas vidas..

तत्र प्रत्ययैकतानता ध्यानम्
tatra pratyayaikatānatā dhyānam
’’Meditação é manter a mente continuadamente se relacionando de forma exclusiva com um objeto escolhido’’

YOGA SŪTRA DE PATAÑJALI 3.2