Algo que a psicologia do yoga nos ensina, e que é facílimo de comprovar, é que nossa mente tem a tendência de se voltar para fora. Dessa forma, também surge a propensão de ela se tornar excessivamente agitada. Conhece alguém assim?

Estamos sempre buscando fortalecer nosso senso de identidade por meio de estímulos externos de prazer, enquanto fugimos, na medida do possível, de experiências desconfortáveis. Convenhamos: na cultura atual, tão voltada para a produtividade e o consumo, esse padrão se exacerba quase ao extremo. No uso das telas, por exemplo, estimulamos intensamente esse “voltar-se para fora”, conversando com muitas pessoas ao mesmo tempo, ganhando dezenas de curtidas e por aí vai. Somos todos viciados, em algum grau. Cada um de nós acaba se apegando a um padrão, hábito ou substância.

Uma mente tão excitada acaba se tornando fraca. Você provavelmente percebe as consequências disso: nossas emoções nos arrastam para cima e para baixo, como se fôssemos troncos jogados ao mar. Não conseguimos sustentar a atenção onde queremos, quando queremos, e as consequências desse descontrole são evidentes: uma bagunça interna, que chamamos de perturbação ou sofrimento.

O yoga, enquanto psicologia bem estruturada, oferece práticas que nos ajudam a melhorar a qualidade da mente. Da mesma forma que treinamos nossos corpos para desenvolver suas capacidades, também precisamos lapidar nossa mente.

Para isso, é necessário um processo inteligente e eficiente. Assim como o trabalho corporal se desenvolve gradualmente, o trabalho mental também precisa seguir esse ritmo. Uma mente acostumada à dispersão não será capaz de manter o foco em conceitos sutis, e muito menos no silêncio. Por isso, dentro de uma abordagem clássica, o primeiro contato com a meditação se dá pela prática de āsanas (posturas).

Concorda que é mais fácil manter a mente concentrada acompanhando o corpo em movimento ou em uma postura incomum, do que sentado com os olhos fechados refletindo sobre “quem sou eu”?

Essa prática envolve a escolha de posturas adequadas ao indivíduo, realizadas de forma a serem firmes, mas sem tensão; confortáveis, mas sem desleixo. Durante a prática, a atitude mental deve se direcionar para experimentar essas qualidades de estabilidade e relaxamento. Em outras palavras, a meditação sobre o corpo acontece quando assentamos a mente na sensação de vida presente nessas duas qualidades.

É simples, mas profundo e maravilhoso o que isso pode fazer pela nossa qualidade mental. Com a continuidade dessa prática, feita corretamente, assimilamos essas características na mente. Com estabilidade e leveza mental, seremos mais capazes de suportar e reduzir as influências externas sobre o corpo, como idade, clima, dieta e trabalho. Ficaremos mais preparados para lidar com os extremos emocionais, como tristeza e euforia, e mais aptos a direcionar nossa atenção para o que realmente desejamos.

Para que a prática de āsanas seja eficiente, ela precisa seguir esses princípios e respeitar nossas individualidades — de corpo, energia e mente. Um professor é indispensável para nos orientar nesse processo.

Ah, sim! A prática também contribui para a saúde geral, cumprindo esse papel. Mas, acima de tudo, o motivo principal para sua existência é nos ajudar de forma profunda, como foi descrito neste texto.

Verso 2.46 – Yoga Sūtra de Patañjali

sthira sukham āsanam

(A postura deve ser firme e confortável.)

2.47 – Yoga Sūtra de Patañjali

prayatnaśaithilyaanantasamāpattibhyām

(O esforço inteligente e relaxado é combinado à meditação sobre o que é eterno.)

2.48 – Yoga Sūtra de Patañjali

tato dvandvaanabhighātaḥ

(Consequentemente, nos tornamos capazes de suportar e até mesmo reduzir as influências dos extremos e do externo.)