É certo que em dados momentos de nossas vidas nos encontramos presos nas teias emaranhadas dos problemas do cotidiano. A dor é angustiante e naturalmente sentimo-nos inclinados a procurar as soluções para nossas perturbações.

Ao percorrermos as trilhas da existência avistamos diversas saídas muito próximas e fáceis. Ainda mais hoje em dia, quando as placas são tão coloridas, as propostas tão milagrosas e os meios singularmente interessantes. Quantos de nós tentamos acabar com os nossos sofrimentos a partir de tais meios rápidos e chamativos e com o tempo percebemos que a mudança não se sustentou. Logo ali na frente nos vemos grudados nas mesmas armadilhas, outras parecidas ou diferentes; mas claramente não melhoramos nossa forma de caminhar.

Com isso não estamos dizendo que muito do que estamos fazendo é inútil, mas que devemos refletir sobre as funções que dadas atividades realmente serão capazes de realizar por nós. Algumas coisas servirão para nos acalmar um pouco, como clareiras para descansar, comida para se fortalecer e seguir em frente na jornada. Mas talvez não conseguirão cumprir o importante papel de seguramente nos ajudar a remover as causas das nossas adversidades físicas e mentais, assim não nos levarão a descobrir nosso ser interior, nem a compreender com profundidade a natureza das nossas ações. Esse papel fundamental é preenchido por um caminho de autoconhecimento autêntico, uma via de longo prazo, íntima e voltada ao conhecimento discriminativo sobre o que nos compõe e à união consciente com nossa verdadeira natureza.

É necessário que venhamos entendendo o mapa que nos leva ao objetivo. Se queremos nos liberar de nossas mazelas e alcançar o cume de nós mesmos, que é a fonte de vida e sabedoria, precisaremos atenuar e pouco-a-pouco remover os obstáculos que impedem a entrada de luz. Para isso é preciso esforço, estudo, humildade, fé e entrega. O yoga nos dá essa base de forma bem estruturada, mas não é a única fonte segura a descrever esse trabalho essencial diário de cunho psicológico.

tapaḥsvādhyāyeśvarapraṇidhānāni kriyāyogaḥ
तपःस्वाध्यायेश्वरप्रणिधानानि क्रियायोगः
A prática de yoga deve reduzir as impurezas mentais e físicas. Deve desenvolver nossa capacidade de examinarmos a nós mesmos e nos ajudar a compreender que, em última análise, não somos os senhores de tudo que fazemos.

YOGA SŪTRA DE PATAÑJALI 2.1 (TRADUÇÃO DO LIVRO ‘’O CORAÇÃO DO YOGA’’ DE T.K.V. DESIKACHAR.)

Não há dúvidas que quando você conhece o percurso para o alto da montanha, no tempo certo você chegará lá. Assim como é certo que tais práticas elementares gradualmente removerão os obstáculos internos que nos prejudicam e que impedem a lúcida percepção.

samādhibhāvanārthaḥ kleśatanūkaranārthaśca
समाधिभावनार्थः क्लेशतनूकरनार्थश्च
Então, é certo que tais práticas removerão os obstáculos que impedem a percepção clara.

YOGA SŪTRA DE PATAÑJALI 2.2 (TRADUÇÃO DO LIVRO ‘’O CORAÇÃO DO YOGA’’ DE T.K.V. DESIKACHAR.)

O problemático é fazer fogo achando que ele emanará frio ao invés de calor… Andar na natureza, cantar, brincar, pode ser muito bom e até importante para nós em diversos níveis, mas não substituirão a labuta interior.

Só o autoconhecimento mesmo nos liberta, todo o resto é diferente. Estes outros são muito bons em seu lugar e com suas devidas funções, mas se tornam perigosos poderíamos dizer, quando deslocados.