Conversava com uma grande amiga e também uma aluna muito interessada e surgiram tais indagações; ”como lidar com o fato de ver as pessoas agindo numa direção ruim mesmo já tendo a informação de que aquilo não é bom?” e outras tipo; ” acho que no fundo o que eu queria era viver num mundo mais perfeito”. Coloquei aqui com as minhas palavra pois minha memória também não é perfeita, assim como a realidade em que vivemos.

Quando adentramos em um caminho de autoconhecimento, saúde e ecologia podemos facilmente cair no equívoco de nos fixarmos na ideia de pureza e perfeição e perdermos de vista a percepção das nossas reais condições e de como as coisas funcionam. O resultado disso é que nos frustramos repetidamente, pois percebemos que tanto nós, como os demais continuam errando e desequilibrando-se. Quão dura então nos parece a realidade.

A natureza em algum nível têm uma tendência ao desequilíbrio, me vem a mente a quantidade de vezes que eu limpo a casa e apenas poucas horas ou dias depois eu tenho que fazer a mesma limpeza, mesmo quando não havia ninguém lá! Ou as inúmeras situações problemáticas que simplesmente surgem como mágica, do nada, da cartola do universo mesmo, tipo uma maçaneta que quebra, uma goteira no telhado, um botão da blusa que arrebenta, mas que coisa!

E na nossa mente não é muito diferente, pois temos uma infinidade de marcas mentais inconscientes servindo de fontes para nossas ações, marcas que tampouco conhecemos ou controlamos. Quer um fato bem concreto? Nós vamos continuar errando, eu e você… Temos um ponto cego do tamanho de um oceano, e ele está todo ”sujo”… A pressa e a prepotência para torná-lo puro só nos agrava a tensão e o sofrimento. Primeiro precisamos acolher como somos, como as coisas funcionam e aprender a nos relacionar melhor com tudo isso de forma mais madura.

Antes de continuar deixe-me contar uma outra coisa muito interessante que o yoga nos ensina;

 

A VIDA, A MATÉRIA É ÓTIMA COMO FERRAMENTA PARA O NOSSO AUTOCONHECIMENTO

Esse sofrimento que sentimos também é um indicativo de algo para ser observado e trabalhado, dentro de nós mesmos. Sem os problemas da vida, a vida não seria a vida. Nós, na condição que estamos como humanidade precisamos das dificuldades para nos conhecer. O problema não vai ser resolvido através de uma fórmula mágica que faz com que as louças não sujem mais, mas sim na melhora da qualidade de como lidamos com a situação, sua perspectiva se transforma e em alguns casos isso pode modificar suas ações para uma direção mais interessante. Com isso não digo que o sofrimento não deve ser evitado, claro que se conseguimos por exemplo parar de comer uma comida que nos faz mal, devemos sim fazer isso, mas tem coisas que não poderão ser manejadas assim em dados momentos e então precisaremos de maturidade.

 

MAIS IMPORTANTE DO QUE ELIMINAR UM PROBLEMA É MELHORARMOS A FORMA DE LIDAR COM ELE

Isso é algo amplamente abordado dentro da tradição do yoga. E o yoga nos ensina que devemos desenvolver a capacidade de ver as coisas de uma forma mais calorosa e direcionada, desejando sinceramente que nós e a todos os seres sejam de fato felizes. Que é importante aprender a perdoar e ter compaixão por aqueles que erram, e pelos nossos próprios erros, afinal… né? Somos humanos… Entender que mesmo o maior dos pecados é cometido por ignorância. Isso não significa que vamos apoiar o que o ”amiguinho” está fazendo, somente lhe faz se vincular com a percepção do erro de um jeito mais leve, consciente, natural, e nos permite manter a fé em algo mais elevado. Também é de grande valia que aprendamos a contemplar a felicidade que pode surgir ao percebermos que alguém está fazendo algo louvável, se uma pessoa está agindo em uma boa direção e está sendo bem sucedida, isso é um ”viva” para todos nós! E do outro lado adquirirmos a habilidade de sermos menos reativos àqueles que agem mal, sabe como? Lembrando que aquilo está sendo feito por ignorância, que perante toda a realidade esse ato ainda é passageiro, efêmero, recordando que há algo superior dentro de ti e do outro e que a vida têm um propósito superior em direção ao autoconhecimento.

Sabemos que tem coisas realmente bem difíceis de se digerir, tá tudo bem. A gente vai devagarinho mesmo, um passo de cada vez. E esta mente mais dócil, madura serve para preparar melhor o solo para o nosso caminho, mas sim, continuaremos plantando as sementes para um mundo melhor, porque é isso que fará uma pessoa que está se conhecendo e consequentemente se reconhecendo no outro.