Para falar sobre o primeiro pilar da prática do yoga no cotidiano, espontaneamente brotam em minha mente uma grande quantidade de momentos aonde esse conceito pode ser facilmente observado, tanto gerando bons resultados por sua aplicação, quanto também a percepção sobre as consequências danosas que se desenvolveram por sua ausência.
Para o dia-a-dia o yoga nos entrega um método eficiente que nos conduzirá à remoção de nossos obstáculos internos e a construção de sabedoria. Os três pilares andam juntos necessariamente, mas didaticamente os separarei para uma maior compreensão.
Este que precede é chamado tapas; significa aquecer. Ele é o calor presente quando por exemplo uma pessoa faz um esforço em nadar contra a correnteza. A correnteza são todas as nossas marcas mentais inconsciente que mecanicamente nos guiam para baixo e para fora, gerando ações que darão alimento aos nossos padrões de ignorância e que causarão danos à nós mesmos, aos demais e a natureza. Lá do amago ou da superfície de nossa mente obscurecida ou agitada advém esses anseios que concluem-se em pensamentos, palavras ou ações nocivas. Ah… Precisaria de muitos volumes apenas para descrever a quantidade de hábitos que percebo em mim agora e no passado que de alguma forma foram e são prejudiciais. Fico contente e você também deveria ficar, pelo fato de conseguir enxergar na trilha já percorrida a abundância em falhas. Elas são humanas, muito profundas e numerosas. Mas quando as reconhecemos e acolhemos com maturidade, podemos gradualmente fazer um esforço em outro sentido.
Na medida que vamos avançando nessa jornada da vida podemos com maior ou menor capacidade vir reconhecendo e compreendendo que padrões nos lesionam. Quando somos apoiados por um caminho genuíno de autoconhecimento, por um professor, um terapeuta, com certeza essa discriminação é ampliada, guiada e protegida em boa direção. Não queremos continuar rumando à ruína, não é mesmo?
Bom, não preciso explanar muito para esclarecer que nossas marcas têm uma certa força, algumas são mais fracas e fáceis de dissolver. Mas as vezes lutamos contra dragões enormes internamente e precisaremos de bastante paciência e tenacidade para derrotá-los, e sim, também muita compassividade e amorosidade. Quantos vícios já deixamos e eles retornaram? Quantas vezes já dissemos que não iríamos fazer algo e fizemos? Etc… Respondo por mim e por vocês? Muitas vezes…
Por isso a base da caminhada é desenvolver uma boa maturidade em lidar com tais tropeços, devemos nos perdoar, e olhar com verdadeira amizade para nós mesmos. Queremos ser felizes e para isso precisamos nos conhecer, cada vez mais a fundo, assim será possível avançar seguramente no caminho. Tapas é todo esforço que vamos fazendo na direção de apaziguar as flamas descontroladas da agitação e a gigante pedra que carregamos, criadas pelo torpor. É também a gradual construção de novos hábitos que forjarão um corpo e uma mente mais saudáveis.
Tapas é você ler esses textões que escrevemos aqui até a última mordida, pois você acredita que vai te nutrir de alguma forma. Não é isso que a mente incita, ainda mais num ambiente digital e num momento moderno que estimula as nossas tendências viciosas, distraídas e frágeis. O normal seria não chegar ao fim da leitura e logo já abrir uma outra página ou vídeo rápido que traria uma sensação de prazer mais breve e intensa.
Tapas é você ir fazer a sua prática, o seu estudo, escolher um melhor alimento pois sabe que o levará mais próximo da saúde, autoconhecimento e contentamento real. Isso, mesmo quando você não está muito a fim.
Num momento de sensibilidade, para mim tapas é o fogo íntimo que promove a separação entre nossa verdadeira natureza e o engano pela identificação sensorial com a matéria. É a força de vontade que se rebela conscientemente contra um governante ignorante dentro da gente. É a chama que incinera pouco-a-pouco a sujeira, tornando-nos mais limpos e também o combustível usado para cozinhar o bom alimento, a força motriz por trás da edificação de uma estrutura sólida que nos elevará mais próximos do propósito sublime e fundamental da vida humana; o autoconhecimento.